Quem foi Joe Brainard?
1 de outubro de 2024
Post por: bernardolopes

Quem foi Joe Brainard?

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Plínio, personagem principal do meu novo livro, Canção Lógica, que será lançado no próximo dia 10 de agosto, pode ser considerado uma extrapolação fictícia do que poderia ter sido de mim se, no curso das coisas, eu tivesse tomado decisões que não tomei. Ufa. Ian McEwan diz que “copiar da própria vida pra fazer literatura é trapacear”, mas ele mesmo, tenho certeza, deve ter plantado sementes autobiográficas em seus romances tão variados. Não é que meu protagonista Plínio seja o que eu seria necessariamente se minha vida tivesse tomado outros caminhos; até porque: como a gente saberia o que seria de nós? Assim como filhos, personagens nascem, crescem e desenvolvem vidas próprias. Você, pai, mexe no que pode, mas, no mais, só assiste. Claro, gosto de experimentar elementos da minha trajetória, personalidade; misturar um fato vivido com um fato pensado e usá-los como ponto de partida para histórias novas, que reflitam inquietações, fugas, desejos e temores, não só meus, mas de pessoas ao meu redor, gerações de irmãos, primos e amigos enfrentando os tempos atuais. Porém, mesmo quando se trata de um alter ego, um escritor não cria apenas uma figura que o reflita como um espelho; o personagem deixa de ser um mero reflexo e, quando a gente assusta, desenvolveu seus próprios contornos bem particulares. (E isso é mágico.)

Veja só o Plínio: Formado (como eu) em Letras, ele se dedicou em sua pesquisa ao estudo da literatura indígena norte-americana (caminho que eu quase tomei após ler Uma Narrativa do Cativeiro e Restauração da Sra. Mary Rowlandson¹); hoje, ele tira sua renda principal de traduções para o mercado editorial (eu dou aulas de inglês); e acaba de ganhar um grande prêmio literário em Portugal (quem me dera). Panos de fundo parecidos, mas atualidades bem diferentes, y otras cositas más. E, embora minha versão real também tenha lá sua parcela bem generosa de vacilos e bolas-fora, a Plínio e aos meus outros personagens eu deixo as decisões mais erradas — e aí eles que sofram as consequências, me poupando disso.

A questão é que, pra compor o arco dramático de Plínio, precisei revisitar meus estudos antigos da cultura e expressão literária dos povos indígenas dos Estados Unidos. Se Plínio tinha seguido esse caminho na faculdade, eu precisava conhecer um bocado dele também, pra construir meu protagonista. E, grata surpresa, descobri uma série de TV recente, que é um verdadeiro achado em vários aspectos: Reservation Dogs. Ela é curta, divertida, bem escrita, com atuações brilhantes, e segue a trajetória de quatro amigos adolescentes nativos de uma reserva indígena norte-americana no estado de Oklahoma. Elora, Bear, Willie e Cheese são quatro jovens que, assim como muitos nós que moramos em cidades pequenas, sonham “em sair daqui e ganhar o mundo” — ambição que vem acoplada ao medo de que o lugar em que nascemos nos impeça de realizar nossos sonhos. (Inclusive, sofro desse receio também, assim como o próprio Plínio, mas isso você vai descobrir lendo Canção Lógica mês que vem.)

Willie, Cheese, Bear e Elora, personagens do seriado “Reservation Dogs”. A maior parte do elenco é composta por pessoas indígenas.

Reservation Dogs², que se encerrou em 2023 com apenas três temporadas, se tornou uma agradável fonte de pesquisa informal e de informação cultural para meu propósito. Num de seus últimos episódios, a figura mitológica da Dama Cervo, personagem eventual da série, bate um papo com o garoto indígena Bear numa lanchonete de beira de estrada. Quando eles se encontram, ela está lendo um livro com uma característica curiosa: em suas páginas se espalham frases rápidas e espaçadas entre si, mais como se fossem notas digitadas. Numa pesquisa rápida e desesperada daqueles que amam literatura, descobri ser um livro de Joe Brainard, artista de quem eu nunca tinha ouvido falar, também nascido em Oklahoma, onde o seriado de TV se passa.

A Dama Cervo, personagem mítica do seriado, lendo o livro “Eu me lembro”, de Joe Brainard.

E que outra surpresa boa foi descobrir este homem. E, mais especificamente, este livro: Eu me lembro (I Remember, no original), uma coleção de recordações simples, diretas, memórias pessoais listadas sem ordem cronológica, sem muitas explicações, mas de forma estranhamente poética, oferecendo um vislumbre invejável (você entenderá por que) da vida e das experiências de Joe Brainard. Joe nasceu em 1942, e faleceu em 1994. Neste livro de memórias experimental, através de método brilhantemente simples de autobiografia, seus registros cobrem sua infância nas décadas de 1940 e 1950 em Oklahoma, bem como sua vida nas décadas de 1960 e 1970 na cidade de Nova York. Todos esses fragmentos memorados, numa espécie leve de fluxo de consciência, são prefixados com a frase “Eu me lembro”, que se torna uma espécie de “refrão” ou “mote” que encabeça cada lembrança.

Veja só algumas delas:

Eu me lembro da primeira vez que recebi uma carta que dizia “Depois de cinco dias, retornar para” no envelope, e pensei que, depois de guardar a carta por cinco dias, deveria devolvê-la ao remetente. 

Eu me lembro da euforia que costumava me dar ao vasculhar as gavetas dos meus pais em busca de camisinhas. (Da marca Peacock.) 

Eu me lembro de quando a poliomielite era a pior coisa do mundo. 

Eu me lembro de camisas sociais rosa. E gravatas de bolinha. 

Eu me lembro de quando uma criança me disse que aquelas folhas azedas parecidas com trevos que costumávamos comer (com florzinhas amarelas) tinham aquele gosto azedinho porque os cachorros faziam xixi nelas. Lembro que isso não me impedia de comê-las. 

Eu me lembro do primeiro desenho que me lembro de ter feito. Era de uma noiva com uma cauda muito longa. 

Eu me lembro do meu primeiro cigarro. Era um Kent. No alto de uma colina. Em Tulsa, Oklahoma. Com Ron Padgett. 

Eu me lembro das minhas primeiras ereções. Eu achei que tinha alguma doença terrível ou algo assim. 

Eu me lembro da única vez que vi minha mãe chorar. Eu estava comendo torta de damasco. 

Eu me lembro do quanto chorei vendo South Pacific (o filme) três vezes. 

Eu me lembro de como um copo de água pode ficar gostoso depois de umas colheradas de sorvete. 

Eu me lembro de quando ganhei um distintivo de cinco anos por não perder uma única manhã de Catecismo durante cinco anos. (Metodista.) 

Eu me lembro de uma das primeiras coisas de que me lembro. Uma caixa térmica para gelo. (Em vez de uma geladeira.) 

Eu me lembro do quanto eu gaguejava. 

Eu me lembro do quanto, no ensino médio, eu queria ser bonito e popular. 

Eu me lembro de quando, no ensino médio, eu enfiava uma meia na cueca. 

Eu me lembro de quando decidi ser pastor. Não me lembro de quando decidi não ser. 

Eu me lembro da primeira vez que vi televisão. Lucille Ball estava tendo aulas de balé.

 Eu me lembro do dia em que John Kennedy foi baleado. 

Eu me lembro da professora de bridge dos meus pais. Ela era muito corpulenta e muito masculina (cabelo curto) e fumava um cigarro atrás do outro. Ela se orgulhava de não precisar andar com fósforos. Ela acendia cada cigarro novo no anterior. Ela morava em uma casinha atrás de um restaurante e viveu até muito velha. 

Eu me lembro de um sonho que tive recentemente, onde John Ashbery disse que minhas pinturas do período Mondrian eram ainda melhores que as de Mondrian. 

Eu me lembro de um sonho que tive muitas vezes em que era capaz de voar. (Sem avião.) 

Eu me lembro de muitos sonhos em que eu encontrava ouro e joias. 

Eu me lembro do garotinho de quem eu cuidava depois da escola enquanto a mãe trabalhava. Eu me lembro de como era divertido puni-lo quando ele fazia algo de errado. 

Eu me lembro do professor de história americana que sempre dizia que ia pular da janela se a gente não ficasse quieto. (Segundo andar.) 

Eu me lembro da primeira vez que fiquei realmente bêbado. 

Eu me lembro de brincar de “médico” no armário. 

Eu me lembro de ter planejado arrancar a página 48 de cada livro que eu lia na biblioteca pública de Boston, mas de logo perder o interesse. 

Eu me lembro de quando meu pai dizia “Tire as mãos de debaixo das cobertas” ao me dar boa-noite na hora de dormir. Mas ele dizia isso de uma maneira gentil. 

Eu me lembro de um raio. 

Eu me lembro de jogar meus óculos no mar perto da balsa de Staten Island, numa noite negra, em um ataque de drama e depressão.

Eu me lembro de um dia muito quente em que coloquei cubos de gelo no meu aquário e todos os peixes morreram. 

Eu me lembro de uma vez ter examinado de perto a abertura na cabeça do meu pinto e de como ela me lembrava a boca de um peixinho dourado. 

Eu me lembro de quando pensava que, se você fizesse alguma coisa de errado, um policial iria colocá-lo na cadeia. 

Eu me lembro daqueles momentos em festas quando você já disse tudo o que podia pensar em dizer a uma pessoa, e lá estão vocês dois de pé um do lado do outro. 

Eu me lembro de sonhos em que andava pela rua e de repente percebia que estava sem roupa. 

Eu me lembro de espirrar na minha mão em público e depois o problema que era o que fazer com a coisa.

As memórias não perdem tempo julgando ninguém; tampouco há resquícios de autocomiseração. Alguns temas aparecem mais de uma vez, com Joe ocasionalmente se detendo neles por um tempo, depois os largando, para mais tarde retornarem. Mas nada, nunca parece repetitivo — tudo é fluido e renovável como águas num moinho.

Capa da edição de 2001.

Pesquisando mais sobre Joe Brainard no YouTube, descobri que ele foi um artista visual de produção extensa e escritor somente ocasional, que influenciou e ainda hoje influencia artistas de vários ramos. Descobri também que há um curta metragem baseado em algumas dessas memórias de seu livro; o filme teve como produtor executivo Paul Auster, ilustre escritor americano falecido em abril deste ano, marido de uma das escritoras do meu coração, Siri Hustvedt. Enfim — cada vez fica mais claro pra mim que tudo de bom no mundo da arte está de alguma forma conectado e que a literatura é um diálogo entre os grandes livros e autores, às vezes despercebido, como as raízes de uma árvore sob o solo. (O sentimento que fica é o de serendipidade, como Ana Maria Gonçalves muito bem descreve no prólogo de seu Um defeito de cor³.) O filme I remember foi dirigido por Avi Zev Weider e estreou em 1998 no Festival Sundace de Cinema. Está disponível no YouTube e tem só 17 minutos.

  Como professor, acho que alcancei o feito de fazer com que alguns alunos da Oficina de Escrita Literária da Borrachalioteca se apaixonassem por Eu me lembro também. E contei a eles que o estilo de Joe de escrever memória foi e ainda é muito reproduzido por aí. O mais conhecido dos casos é o do escritor francês Georges Perec, Je Me Souviens⁴, lançado em 1978, oito anos depois do de Joe Brainard. Perec manteve a ideia do título original e dedicou a obra ao americano. Já a escritora mexicana Margo Glantz lançou o seu em 2014, chamado Yo también me acuerdo. Convidei meus alunos a entrar no clima e a reproduzir o estilo com suas próprias lembranças: é essa a sensação que Joe deixa, de que todos podem se juntar a ele. Alguns dos alunos foram além e quebraram o padrão do refrão “Eu me lembro…” da obra de origem. Por exemplo, um deles começou as frases com “Não sai da memória…”, enquanto outro encetou sua lista de recordações de um jeitinho diferente: “Eu me lembro… péra lá… acho que me lembro… ou melhor, deixa para lá.” Não me lembro de ter lido um só trabalho ruim. Foi uma experiência incrível.

Capas das memórias de Joe Brainard, Georges Perec e Margo Glantz, e suas datas de lançamento.

Em 2013, todos os trabalhos escritos de Joe Brainard foram reunidos e lançados numa só coletânea. Quem escreveu a introdução foi Paul Auster, que mencionei acima. Paul nos apresenta ali uma lista com todos os múltiplos temas abordados por Joe em Eu me lembro: família, comida, roupas, filmes, estrelas de cinema, TV e música pop, escola e igreja, o corpo, sonhos, devaneios e fantasias (frequentemente, referentes a sexo), datas comemorativas, objetos e produtos, sexo, piadas e expressões populares, amigos e conhecidos, “causos” que lhe aconteceram, insights e confissões, e reflexões sobre a vida. Uma das virtudes do livro, nos diz Paul, é “residir, com grande foco, nos detalhes sensoriais da vida somática (a sensação de ter seu cabelo cortado numa barbearia, a sensação de ‘girar e girar super-rápido até você não conseguir mais ficar de pé’, ouvir a água mexendo pra lá e pra cá dentro do seu estômago e achar que você tem um tumor)”, e coisas do tipo, de uma delicadeza sensorial encantadoramente descrita em palavras. Por outro lado, somos também alertados sobre as coisas que Joe não menciona temas que a maioria de nós provavelmente listaria: não há referência a brigas entre irmãos, nem cenas de crueldade ou de violência física, nenhum senso de vingança, nada de comentários ácidos ou registros de amargura, nem coisas como rompantes de raiva (exceto pela lembrança de jogar os óculos no mar quando estava deprimido e do assassinato de J. F. Kennedy.)

Joe ainda é cultuado por seu trabalho diversificado e inovador em outras áreas, que passa de montagens e colagens até desenhos e pinturas. Fez capas de álbuns, de livros, trabalhou com figurinos e cenários teatrais. O escritor Edmund White, seu conhecido próximo, disse em entrevista durante a pandemia à Library of America que Joe Brainard era “o oposto de pretencioso”, apesar de suas vastas habilidades artística e da renovação que ele trouxe ao gênero literário de memória. E contou a curiosidade de que Joe tinha um sério problema em soletrar palavras; “cometia milhões de erros, mas não creio que tivesse vontade de corrigir isso, porque ele transformou sua maneira de escrever em uma nova forma de fazer arte”. O poeta e crítico Geoffrey O’Brien, em 2023, reforçou para a revista New York Review of Books que Eu me lembro revelou Joe Brainard como o inventor de uma nova espécie de livro, ainda muito utilizada como ponto de partida para escritores e professores, não só no ofício literário, mas também oficinas de escrita.

A primeira publicação de Eu me lembro em 1970 ganhou “sequências”: Joe publicou Eu me lembro mais (I remember more) em 1972, Mais eu me lembro mais (More I remember more) em 1973, e, mais tarde naquele mesmo ano, Eu me lembro do Natal (I remember Christmas), um compilado singelo só de memórias natalinas. Depois, em 1975, uma editora juntou todos esses volumes num só e publicou-o sob o título original e abrangente Eu me lembro.

Mais um pouquinho pra gente:

Eu me lembro de me perguntar se garotas também peidam. 

Eu me lembro de depois de abrir os presentes quão vazio o dia de Natal é. 

Eu me lembro de como eu nunca chorava na frente de outras pessoas. 

Eu me lembro de quando chamar meu pai de “pai” soava formal demais, e “papai” estava fora de questão, e “paiê” era de uma casualidade falsa excessiva. Mas, o menor de três males, escolhi o casual-falso. 

Ainda na introdução que escreveu para a coletânea de escritos de Joe, Paul Auster declarou que Eu me lembro é uma obra-prima: “Um por um, os chamados livros importantes do nosso tempo serão esquecidos, mas a pequena joia modesta de Joe Brainard perdurará. Em frases simples, diretas e declarativas, ele traça o mapa da alma humana e altera permanentemente a forma como olhamos o mundo. Eu me lembro é extremamente engraçado e profundamente comovente. É também um dos poucos livros totalmente originais que já li.”

Autorretrato de Joe Brainard.

Numa carta à poeta Anne Waldman, Joe descreveu o processo de construção: “Estou muito, muito entusiasmado esses dias com uma coisa que na qual ainda estou trabalhando chamada Eu me lembro. Estou me sentindo muito como Deus escrevendo a Bíblia. Quer dizer, minha sensação é de que não estou realmente escrevendo o livro, mas que é por minha causa que ele está sendo escrito. Eu também sinto que ele é tanto sobre todo mundo quanto sobre mim. E isso me agrada. Quero dizer, fico com a sensação de que sou todo mundo. E é uma sensação boa. Não vai durar. Mas estou aproveitando a sensação enquanto posso.”

É a habilidade de “transcender o puramente íntimo e pessoal até um trabalho que é sobre todo mundo — da mesma forma que todas os grandes romances são sobre todo mundo”, como diz Paul, e sua viúva, Siri, também deixou um parecer em seu delicioso livro A Mulher Trêmula: “Joe Brainard descobriu a máquina de memória.”

Paul Auster nos deixa então um convite: para nos deixarmos levar pelo legado de Joe, o jeito tão brilhantemente simples de registrar suas mais variadas lembranças. Querido leitor, anote sua lição: “Escreva as palavras Eu me lembro, pause por um momentinho, dê à sua mente a chance de se abrir, e inevitavelmente você vai se lembrar, e se lembrar com uma clareza e uma especificidade que vão te espantar.”

Eu já comecei as minhas.

Agora, só falta você. 

 

Nota do autor: Os trechos que apresentei de exemplo são traduções minhas. Eu me lembro ainda não foi lançado para nós no Brasil. A única maneira de encontrá-lo na nossa língua é em português de Portugal, numa edição da Editora Cutelo. O volume inclui, juntinhos, o Eu me lembro de Joe Brainard e o de Georges Perec (com tradução de André Marques e de Diogo Paiva, respectivamente). Quem faz a venda é a Livraria Aberta, da cidade de Porto. O título em Portugal é Lembro-me.)

 

Bibliografia:

AUSTER, Paul “Introduction”, in: Brainard, Joe. The Collected Writings of Joe Brainard: A Library of America Special Publication. Cidade de Nova York: Library of America, 2013.

Brainard, Joe. I Remember. Cidade de Nova York: Granary Books, 2001.

HUSTVEDT, Siri. A Mulher Trêmula. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2011.

LIBRARY OF AMERICA. “Edmund White remembers Joe Brainard: “He was the opposite of pretentious”. YouTube, 27 de jul. de 2022.

Miller, Andrew H. “B-Sides: Joe Brainard’s I Remember”. Public Books, 2019. Disponível em: https://www.publicbooks.org/b-sides-joe-brainards-i-remember/ Acesso em: 2 de jul. de 2024.

 

Notas de rodapé:

¹ Considerado o primeiro best-seller da cultura norte-americana, este é um exemplo clássico de narrativa de cativeiro (ou captivity genre), uma espécie de gênero literário da era colonial dos Estados Unidos. Publicado em 1682, Uma Narrativa do Cativeiro e Restauração da Sra. Mary Rowlandson narra momentos sangrentos dos conflitos entre os povos originários e os brancos de ascendência europeia pelas terras indígenas, invadidas pelos ingleses, na região que viria a se tornar a Nova Inglaterra (por exemplo, os arredores de Boston, no estado americano de Massachussets). A Sra. Mary Rowlandson foi uma colona inglesa, casada e com filhos, capturada em 1676 em um ataque durante a Guerra do Rei Felipe (indígenas versus colonos). Foi mantida refém por nativos por quase 12 semanas, e, seis anos após, publicou seu relato como uma história de provação divina e fé cristã — e, devido a isso, tem como título alternativo A Soberania e Bondade de Deus

² O título faz referência ao primeiro filme de Quentin Tarantino, Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, no original), de 1992.

³ Ana muito apropriadamente cita também Joseph Henry: “As sementes da descoberta flutuam constantemente à nossa volta, mas só lançam raízes nas mentes bem-preparadas para recebê-las.”

⁴ Perec tem bastantes livros publicados aqui no Brasil, inclusive por editoras grandes como a Cia. das Letras. Destaque para A vida: modo de usar e A arte e a maneira de abordar seu chefe para pedir um aumento, este último traduzido por Bernardo Carvalho. Uma tradução para o português seu Eu me lembre também, infelizmente, nunca deu as caras. Je Me Souviens ainda não foi traduzido para o português.

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Bernardo Lopes

BERNARDO EVANGELISTA LOPES nasceu em Sabará, Minas Gerais, em 1988. Formado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é escritor e professor de Língua Inglesa. Seus livros "O que disse o Imperador" (2016), "Dona" (2018) e "Debutante" (2021) foram publicados pela Metanoia Editora, do Rio de Janeiro. "Dona" foi traduzido para o inglês e publicado nos Estados Unidos, assim como seu ensaio crítico-literário "O Narrador Injustiçado" ("The Underrated Narrator"); ambos são vendidos em mais de 20 países pela Amazon. Bernardo é o Presidente da Academia de Ciências e Letras de Sabará, onde ocupa a cadeira de nº 17, que homenageia o conterrâneo Júlio Ribeiro.