Broderagem: Chay Suede em “Mania de Você”, e Ben-Hur

A novela das 9, Mania de Você, tem na linha de frente Chay Suede como o vilão gatão Mavi, e Jaffar Bambirra como seu parsa, o Iberê.
E a galera na Internet tá de olho no clima que rola entre esses dois, uma quimicazinha, por que não?, que flerta ali com a broderagem (pra quem não conhece o termo, é uma gíria atual que serve “tanto para comentar um laço afetivo entre homens, como também, em algumas ocasiões, um relacionamento sexual entre eles, mesmo eles se dizendo heterossexuais”, nas palavras da psiquiatra Carmita Abdo). A expectativa de parte do público da novela tava ficando tão grande que, pelo que li numa notícia ontem, já veio ordem lá “de cima”, do pessoal da Globo, pro autor e pros roteiristas criarem uma reviravolta na trama: revelar que os dois são irmãos, pra acabar logo com isso!
Aí eu lembrei que uma situação parecida rolou lá em 1959 com o filme Ben-Hur, um clássico da Era de Ouro de Hollywood (inclusive, tem uma versão mais recente, com o Rodrigo Santoro, de 2016). Ben-Hur foi meu filme favorito durante anos. É uma jornada maravilhosa de assistir, e os personagens principais, Ben-Hur e Massala, são dois grandes melhores amigos que depois viram inimigos num piscar de olhos.
Massala (olha só) é um soldado romano dos tempos de Jesus, e o Ben-Hur é um príncipe judeu. Um acidente durante um desfile do Imperador faz com que Massala condene Ben-Hur a se tornar escravo, uma traição inacreditável causada pela impressão (foi acidente mesmo) de ter sido traído. Mas, antes dessa treta começar, você precisa ver o clima que rola entre os dois: dá a impressão de que os dois vão se pegar a qualquer instante, mas, a que tudo indica, eles são só amigos.
Só que, depois do lançamento do filme, o roteirista, o maravilhoso escritor americano Gore Vidal, deu uma entrevista na qual revelou que, quando escreveu o script, colocou essa química homoafetiva entre os amigos de propósito, mas só contou pro ator que fazia o Massala. O que interpretava o Ben-Hur ele poupou por achar que o cara não ia gostar!
E não gostou mesmo! Quando ficou sabendo por essa entrevista, o ator Charlton Heston, que fazia o Ben-Hur, negou veementemente qualquer subtexto de homoafetividade ou homoerotismo no filme; ficou revoltado, bem como o Gore Vidal tinha previsto.
Mas se você assistir você vai ver: o climinha tá ali, claro, a cada cena. Até o jogo virar e os caras ficarem possessos um com o outro; aliás, o clima não necessariamente acaba ali… a dor da traição é que é grande demais! Igual o amor que eles nutriam um pelo outro. Amor de amigo, a que tudo indica! Mas a gente via um quê de broderagem no olhar dos dois!
P.S.: Gore Vidal escreveu um dos livros mais foda que já li sob a temática gay, chamado A Cidade e o Pilar. É a trajetória de um rapaz que passa anos apaixonado por um amigo “hétero” que ele pegou na broderagem, esse amigo vai pra guerra, eles passam anos sem se ver e se falar, mas o protagonista continua o procurando, em outros caras inclusive, até eles se reencontrarem. O final é chocante; o livro, memorável.